Conselho Federal de Medicina condena terapia antienvelhecimento |
Faltam evidências científicas que justifiquem a prática da
medicina antienvelhecimento, ou anti-aging. Essa é a conclusão de uma extensa
revisão de estudos científicos sobre o assunto, realizada pelo Conselho Federal
de Medicina (CFM). A entidade publica nesta segunda-feira (6) parecer sobre o
assunto. O material pode ser acessado no site da entidade.
A diretoria do CFM
confirmou que o parecer servirá de base de uma resolução que proibirá o uso de
hormônios e práticas de antienvelhecimento no país. Segundo o vice-presidente
do CFM, Carlos Vital Corrêa Lima, o Código de Ética Médica já veda a realização
de terapêutica experimental. "Uma
resolução dará mais ênfase e deixará ainda mais claro esta proibição".
Quanto à técnica de
antienvelhecimento, a principal crítica do parecer do CFM diz respeito à
reposição hormonal e à suplementação com antioxidantes, vitaminas e sais
minerais, medidas propostas pelos que a prescrevem. O tratamento hormonal
utilizado nestas pessoas que buscam o rejuvenescimento era o mesmo usado em
pacientes com hipofunção glandular. O tratamento sem a devida indicação coloca
a saúde do paciente em risco.
O Coordenador da
Câmara Técnica de Geriatria do CFM, Gerson Zafallon Martins, alerta que os
procedimentos podem causar danos. Há aumento, inclusive, do risco de câncer.
“Prescrever hormônio do crescimento para “rejuvenescer” um adulto que não tem
deficiência desse hormônio é submetê-lo ao risco de desenvolver diabetes e até
neoplasias”.
De acordo com o
Parecer do CFM nº 29/12 não se reconhece no Brasil a especialidade médica de
antienvelhecimento, bem como não há registros na União Europeia e nos Estados
Unidos.
Trabalho - O Parecer
CFM nº 29/12 conclui ainda que a modulação hormonal bioidêntica, “vem a ser
nada mais que o uso de hormônio fabricado em laboratório, manipulado em
farmácia magistral e prescrito com finalidade terapêutica não sustentável
cientificamente e, desse modo, não aprovada pelas sociedades medicas
acreditadas”, diz o texto.
Na avaliação dos
conselheiros, a maior longevidade ou aumento expectativa de vida do homem atual
não se deve a um tratamento específico e sim a toda uma melhora nas condições
de vida. “Estão vendendo ilusão de antienvelhecimento para a população sem
nenhuma comprovação científica e que pode fazer mal à saúde. Com a idade, o
metabolismo mais lento e a ingestão de algumas substâncias podem aumentar o
risco de várias doenças”, alerta a médica geriatra Elisa Franco Costa, que
auxiliou nas pesquisas do CFM.
Para a geriatra e
membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, Maria Lencastre, a
manipulação hormonal deve ser indicada apenas nos casos em que o paciente
apresente algum tipo de disfunção na produção de hormônios, como nos casos de
hipotireoidismo (distúrbio hormonal que afeta o metabolismo do organismo).
Ela lembrou que o fator genético responde por um terço das
causas do envelhecimento e que a melhor maneira de retardar o processo é a
modificação de hábitos, que incluem a prática de exercício, a alimentação
adequada e a perda de peso. "Medicamentos que não são necessários, além do
risco, significam custo com uma população que já tem grandes custos [com
patologias como doenças do coração].
Processo - Segundo
dados da corregedoria do CFM, nos últimos quatro anos, a entidade já cassou o
registro profissional de cinco médicos que praticavam os procedimentos sem
comprovação científica. Outras dez punições (como suspensão e censura pública)
também foram dadas a outros médicos. Os Conselhos Regionais de Medicina também
apuram outros casos.
O ilícito destes médicos geralmente era agravado pela
publicidade imoderada, sensacionalista e promocionais. Muitos deles garantiam
resultados, o que contraria o Código de Ética Médica (CEM). “A medicina não é
uma ciência de fim e sim de meios. O médico tem que fazer o possível em
benefício do paciente, mas nem sempre o resultado é satisfatório”, destaca o
corregedor do CFM, José Fernando Maia Vinagre.